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A coroa do Advento: simbolismo e teologia

A coroa do Advento é um símbolo “litúrgico” que enriquece o período de preparação para o Natal, ajudando os fiéis a vivenciar espiritualmente o mistério da Encarnação do Filho de Deus. Sua forma, cores e elementos têm profundos significados teológicos e espirituais, convidando à meditação e à vigilância no tempo de espera pela vinda do Salvador.

A prática da coroa do Advento tem raízes na tradição cristã germânica, atual Alemanha, onde, no século XVI, os luteranos começaram a utilizá-la como um sinal visível do caminho de preparação para o Natal. O formato de uma coroa, representa a eternidade de Deus, que não tem princípio nem fim, e o amor infinito d’Ele pela humanidade. A sua ornamentação com ramos verdes, simboliza a esperança e a vida nova trazida por Cristo, mesmo em meio às adversidades e a aridez espiritual.

Na coroa, costuma-se colocar quatro velas. O fato de serem quatro veles, representa as quatro semanas do Advento, por isso, mesmo a cada domingo se acende uma das velas, expressando-se deste modo que a cada domingo que passa, mais próximo se está da chegada do Emanuel, Deus conosco, o Filho de Deus.

É importante, que deixemos claro, desde já, que quanto às cores das velas não existe uma regra universal da Igreja. Pode haver, no máximo, uma orientação diocesana ou na ausência desta, fica a critério de cada paróquia escolher as cores que vai usar. Alguns lugares, usa-se as quatro velas brancas, outros, usa-se as quatro velas roxas, outros ainda três roxas e uma rosa. Tradicionalmente, usa-se uma vela roxa, uma vermelha, uma rosa e uma branca. Essa última opção é a que melhor expressa o sentido teológico, inclusive na ordem de acendimento das velas (1ª. ROXA, 2ª. VERMELHA, 3ª. ROSA e 4ª. BRANÇA).

A primeira vela (ROXA): vela da esperança, chama a atenção por meio do aspecto visível da mudança do tempo litúrgico, portanto acende-se a vela ROXA, que é a cor do tempo do advento. Esta vela remete à esperança no cumprimento das promessas de Deus, que se manifestaram na vinda do Messias. O profeta Isaías recorda: “O povo que andava em trevas viu uma grande luz” (Is 9,1). No primeiro domingo, os fiéis são chamados a renovar a confiança no Senhor que vem para salvar.

A segunda vela (VERMELHA): vela da paz, representa a paz que o Messias veio trazer ao mundo, mediante o seu sangue derramado na cruz. É um convite à conversão do coração e à vivência da reconciliação com Deus e com os outros. A profecia messiânica proclama: “Ele será chamado Príncipe da Paz” (Is 9,6). Este momento convida os cristãos a serem instrumentos de paz em suas vidas e comunidades.

A terceira vela (ROSA): vela da alegria. O terceiro domingo é o chamado “Domingo Gaudete” (Alegrai-vos), portanto, acende-se a vela rosa representando a alegria da proximidade do Natal. Inspirada em Filipenses: “Alegrai-vos sempre no Senhor! O Senhor está próximo!”  (Fl 4, 4-5). Este domingo celebra o júbilo pela certeza de que o Salvador está chegando.

A quarta e última vela (BRANCA): vela do amor, que aponta para a plenitude do amor divino revelado no nascimento de Jesus. O Evangelho de João destaca: “Porque Deus amou tanto o mundo, que deu o seu Filho unigênito” (Jo 3,16). Com esta vela, os fiéis são chamados a acolher e refletir o amor de Deus em suas ações. É o sinal da pureza de Cristo, Luz do mundo, que entrando no mundo e assumindo a história humana, ilumina os corações e dissipa as trevas da humanidade, chamado toda ela a passar das trevas à luz verdadeira!

A cada domingo do Advento, ao acender uma nova vela, a luz da coroa aumenta, simbolizando o progresso espiritual dos fiéis e a chegada iminente da “Luz do Mundo” (Jo 8,12). Este gesto simples, porém, significativo, une a dimensão litúrgica com a familiar, ajudando a preparar o coração e o lar para o Natal. Além disso, é um chamado à vigilância e à oração, como Jesus nos adverte: “Vigiai, pois não sabeis quando o dono da casa voltará” (Mc 13,35). Nesta mesma sequência, acendendo assim as velas, da mais escura à mais clara (branca), a Igreja, por meio dos sagrados ritos litúrgicos deste tempo do Advento, convida cada fiel individualmente e toda a comunidade de fé a percorrer um itinerário espiritual, passando da escravidão e das trevas do pecado à luz da vida nova, que brota do mistério da Encarnação do Verbo de Deus!

Em síntese, a coroa do Advento, com sua profundidade simbólica, é uma ferramenta espiritual rica para os cristãos vivenciarem o Advento com renovada esperança, paz, alegria e amor. Ao preparar-se para o Natal, os fiéis são convidados não apenas a recordar a vinda histórica de Cristo, mas a aguardar sua segunda vinda na glória, vivendo com coerência e fé.

Um feliz e abençoado Advento para todos e todas!!

Pe. Izidorio Alencar

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