Pela primeira vez em séculos, a tradicional procissão de Corpus Christi que arrastava multidões em adoração ao Santíssimo Sacramento não ocorreu como de praxe. A pandemia do novo coronavírus (COVID-19) forçou, mais uma vez, os fieis a abrirem mão do seu direito de expressar publicamente e presencialmente sua fé, sobretudo em se tratado da única ocasião no ano litúrgico em que o Santíssimo pode sair pelas ruas da cidade. Sim, é a única oportunidade que todas as pessoas podem ver o próprio Jesus em corpo, sangue, alma e divindade passear pelos bairros e avenidas e, assim como nos tempos bíblicos, ir atrás dele como verdadeiros discípulos. Apesar da não participação dos fieis, a igreja, num esforço contínuo em tentar permanecer unida a seus membros, alimentando-lhes a fé, promoveu o passeio do ostensório sem povo. O ato se repetiu não só na Sé Episcopal de Salgueiro, mas em várias outras paróquias da diocese.
Em cima de um carro, os padres transitaram pelas ruas vazias abençoando as casas devotas que prepararam um altarzinho em sua frente para acolher o Cristo que passava mais depressa que o de costume. Nas igrejas, missas transmitidas pelos meios de comunicação – rádio, Facebook, Instagram e YouTube – e adoração privada. Para garantir que as pessoas pudessem pelo menos visitar o sacrário e fazer momento particular de encontro com Deus, as igrejas abriram suas portas para adoração pública por um curto período de tempo, respeitando as medidas sanitárias de prevenção como o uso obrigatório de máscaras e o distanciamento social. No entanto, o que talvez mais mexeu com o sentimento dos fieis foi o vazio das avenidas sem os tradicionais tapetes por onde o Senhor costumeiramente passava.
A tradição de tecer tapetes artesanais no dia de Corpus Christi é de origem portuguesa e foi trazida para o Brasil na época da colonização. Todos os anos o amor dos filhos e filhas de Deus se materializava na ajuda mútua, na alegria do trabalho e no resultado final que eram os tapetes por onde Jesus iria passar. Este ano, porém, as alfombras pelas quais o Salvador pisou foram aquelas confeccionadas em nosso coração; caminhos do medo, da depressão, do isolamento, da doença, da saudade. Felizes daqueles que sentiram a pressão dos seus passos, felizes daqueles que, das portas e janelas de suas casas sentiram emanar cura e consolo, mesmo em meio a multidão de sentimentos provocada pelo vazio, assim como a mulher que, depois de sangrar por vinte anos, se curou ao simples gesto de tocar as vestes do Homem de Nazaré.
Que Jesus Sacramentado abençoe nossa diocese, o Brasil e o mundo e que seu sangue redentor nos resgate do abismo ao qual fomos lançados contra nossa vontade e nos abra de novo as portas do céu, céu da unidade, do abraço, do aperto de mão.
Por: PASCOM – DIOCESE DE SALGUEIRO